Começando este post de forma bastante directa, posso assumir que pertenço ao grupo dos toscos do volante.
Não ao grupo dos irresponsáveis, com corridas absurdas feitas de noite, nem ao grupo dos exibicionistas, conhecidos por ouvirem a música a altos berros ao mesmo tempo que possuem um carro que deita fumo azul do tubo de escape e tem 5 motores em vez de um ( ah, é verdade, também pertenço ao grupo dos ligeiramente exagerados).
Ora, sendo eu um exemplar perfeito de tansa do volante, creio que seria apropriado existir uma associação de apoio a pessoas como eu. Até parece que vejo a minha própria apresentação “Olá eu sou a Iolanda e não consigo conduzir.”
Na verdade eu não sou propriamente azelha a conduzir por um motivo muito simples – não conduzo. A última vez que peguei num carro foi em Agosto do ano passado e acho que em Grândola ainda se fala disso.
Como podem imaginar, esta situação, para além de humilhante, também me dificulta a ida aos mais variados locais porque me torna sempre dependente de almas caridosas, que dêem uso à sua carta, ou de motoristas da Carris. Agora pensem nisto, qual a probabilidade de eu me dar bem num autocarro às 2h da manhã para ir para casa?! Poooooooiiiiiiiiisssssssssss.....lá está....
Agora a parte da humilhação vem já aí. Já repararam na quantidade absolutamente louca de velhinhos ao volante? E de adolescentes com cara de “eu só tenho 10 anos e não deveria estar a conduzir”? Confesso que no meu pior dia cheguei a ver um deficiente com o seu carrinho adaptado e com o tique de mover a cabeça repetidamente de um lado para o outro.
Agora a questão que me intriga: porque raio conseguem todos eles conduzir e eu não??
A verdade é que já sofri um acidente, embora não fosse a condutora, e ficou-me sempre uma certa insegurança em relação a rotundas. Depois não tenho um carro meu e, este sim, creio ser o meu motivo principal. Apesar de o meu pai insistir que use o seu automóvel, bem sei que se eu aparecesse com um risco de milímetros o Inferno desceria à Terra e eu prefiro ser apresentada ao próprio Diabo do que vê-lo encarnado num homem de um metro e oitenta de altura e com a força de uma bulldozer.
Ultimamente tento lutar contra este medo e por isso fui comprar 3 aulas para “relembrar” como se conduz. Desci a esta vergonha, de voltar a uma escola mesmo depois de ter terminado o “curso”, e nem sequer foi para embaraçar os professores e mostrar-lhes “onde estou agora”. Concluindo, o instrutor disse que estava tudo bem na minha condução e que só tinha de pegar no meu carro e habituar-me a ele. Claro, isso seria fácil se eu tivesse alguém que pudesse vir ao meu lado a dar-me confiança de forma tranquila. E na frase anterior sublinho o TRANQUILA, pois as duas pessoas que poderiam ir ao meu lado esqueceriam o significado de tal palavra mal se sentassem no banco do “morto”. Uma delas é o meu pai, que diria coisas tão meigas quanto “sabes, o carro também tem a 5ª”, “já me estás a dar cabo da embraiagem” ou a pérola “és mesmo parva, porque raio não metes a mudança?”. A outra seria o meu namorado, que para além de não acreditar que ele tivesse paciência suficiente, também não quero estragar a doce ilusão de que sou perfeita e que um carrinho de nada não me atrapalha.
Os outros que se oferecem para ir comigo não têm carta e perante tal perspectiva desisto, afinal, o que preciso é de ter alguém que em situação de crise consiga ajudar-me a tirar o carro do buraco onde o poderei ter colocado.
Sempre que saio de casa olho para o belo carro estacionado mesmo à porta e penso que hoje seria o dia para lhe pegar mas logo em seguida penso que a) está a chover ou b) faz demasiado Sol e as pessoas saem muito mais de casa nesses dias e iria apanhar muito trânsito o que me levaria a parar muitas vezes e a deixar o carro ir abaixo outras tantas, ouvindo sempre as buzinadelas dos apressados atrás de mim. Também recorro com frequência ao facto de ter de percorrer um caminho sem ruas inclinadas o qual desconheço até ao momento.
E por tudo isto, creio que a associação “tenho medo de conduzir mas não de me sentar numa sala com estranhos e confessar os meus problemas íntimos” seria viável de ser criada sendo eu um dos seus membros fiéis.