quinta-feira, março 01, 2007

Outro dia pensei nisto...

Não seria mais fácil se nascêssemos a saber para que tipo de trabalho fomos talhados?
Se assim fosse, na infância abandonaríamos a vontade generalista de nos tornarmos bailarinas ou polícias para desejarmos ser algo como fisioterapeutas ou engenheiros químicos. Deixaríamos de andar confusos na hora de escolher um curso e, mais importante, não entraríamos em determinada faculdade apenas porque era onde a nossa média se encaixava. No final das contas, os adultos deixariam de passar grande parte da sua vida frustrados com uma profissão que não os satisfaz e a pensar no que poderiam ter sido....um dia.
Está mais que provado que nascemos todos com aptidões várias, que poderemos seguir inúmeros e variados caminhos, no entanto não o fazemos. Se a culpa é só nossa? Claro que não. Culpemos então a vida, pois foi ela que nos trancou na realidade em que cada um de nós tem de se tornar especialista em determinada área para garantir rendimentos futuros. Actualmente, alguém com múltiplos interesses é designado como “disperso” e são-lhe recomendadas consultas de concentração com o psicanalista mais próximo.
Percebo agora que o número de pessoas que deseja fugir do trabalho seja semelhante às que desejam fugir do casamento, afinal, em ambos temos de escolher a opção certa, tentando maximizar a hipótese de sermos felizes para o resto da vida e minimizando a sensação de arrependimento. Também em ambos os casos corremos riscos ao voltar atrás na decisão inicial. Realmente não é fácil.
Em boa verdade, o que me preocupa nem são as inúmeras opções que poderemos ter, mas sim o não saber para o que fomos realmente feitos. E se nunca o viermos a saber? Se passarmos o resto da vida a achar que precisamos de algo mais?
Serão apenas seguros do seu caminho todos aqueles que nunca têm dúvidas e que raramente se enganam? E que será feito dos que são felizes no que fazem mas que, mesmo assim, sentem que isso não lhes basta?
Também será injusto que tenhamos de decidir cedo, e na idade em que menos temos capacidade para tomar decisões conscientes, aquilo que queremos fazer como fonte de rendimento futuro. A ironia é que quando temos idade para perceber que o caminho que escolhemos não é o mais indicado somos, muitas vezes, “velhos” demais para tentar mudar.
Talvez por tudo isto nos tenha sido dada a capacidade de sonhar.
Sonhemos então, pois nos sonhos, nem a Lua é inalcançável para qualquer um de nós.