segunda-feira, fevereiro 19, 2007

E quando eu for muito velhinha...

A maioria de nós esboça um enorme ar de espanto quando um velhote assume não se lembrar do que fez ontem quando, no entanto, fala da sua juventude como se a estivesse a ver projectada num ecrã à sua frente, de forma clara e nítida.
Hoje percebo que isso faz sentido.
Com o passar dos anos, as testemunhas das nossas alegrias e tristezas vão desaparecendo. Uns morrem, outros vão morar longe, outros ainda perdem-se nas inúmeras estradas do tempo, sem sabermos como nem porquê. Vamos ficando assim, lentamente, sem testemunhas da pessoa que um dia fomos.
A nossa memória é a única que nos permite dar a conhecer um lado que, no presente, poucos conhecerão. É ela que nos vai ajudar a encantar os nossos netos com histórias de loucuras passadas, que nos permitirá chegar aos nossos filhos quando eles pensarem que não os compreendemos. E, em última análise, é a memória do passado que nos permite evitar erros futuros.
Se é realmente importante o que almoçámos ontem? Bom, não tanto quanto a sensação de recordar o subir a árvores ou o chamar da nossa mãe.
A verdade é que no presente somos apenas aquilo que construímos no passado. E a nossa memória sabe disso.