segunda-feira, maio 15, 2006

Somos portugas e depois?!

De acordo com as novas regras balneares, quem entrar no mar quando estiver bandeira vermelha, habilita-se a pagar uma multa que poderá ir até aos 1000 euros.
Portanto, se esta medida foi realizada com o intuito de diminuir a taxa de afogamentos que ocorrem sempre no Verão, parece-me que não vai resultar.
Quem faz este género de leis ainda não deve ter reparado num importante e relevante pormenor: somos portugueses, logo, viver no limite é o nosso lema. Poderia até dizer que risco é o nosso segundo nome.
Reparem, o Champalimaud e amigos conseguem provocar um aumento da sua adrenalina indo esquiar para determinados locais com o risco de avalanches, podem também preferir o calor e escolherem surfar no Havaí na época das ondas gigantes ou, em casos extremos, frequentar festas do jet-set em que objectivo final será fugir de todas as Dadinhas, Lilinhas, Titias, que os tentem interpelar.
No entanto, o resto do povo tem de arranjar outras maneiras de fazer o seu corpo vibrar, logo torna-se inventivo.
Porque acham que o futebol tem tantos adeptos ferrenhos no nosso país?! Porque é uma forma barata de arriscar um ataque cardíaco, é aquela adrenalina do “será esta temporada ou a máquina aguentará até à próxima?!” Provavelmente até existe um sistema de apostas clandestino, em relação a este assunto, naqueles cafés onde o universo masculino, adepto da bejeca e do coirato, se junta para assistir aos jogos.
Claro, que se o adepto for do clube da águia vê o seu stress e adrenalina especialmente aumentado. Heis aqui, mais uma demonstração do grande clube que o Benfica é para as classes trabalhadoras.
Outro hobbie trata-se das corridas feitas à noite na ponte Vasco da Gama e sítios que tais, de referir também as visitas feitas ás auto-estradas em sentido contrário que devem, no mínimo, ser tidas como um estimulo gratuito aos condutores que com eles se cruzam.
Claro que até mesmo um dia de condução normal se torna perigoso nas nossas estradas. Há sempre um “vizinho” disposto a ultrapassar pela direita, a rasar o nosso carro, a meter-se à nossa frente sem mais nem ontem,....
E claro que levar o tacho, com os petiscos e feijoadas, para a praia também tem o seu objectivo. Pode-se sempre escolher entre o risco de intoxicação alimentar e uma paragem digestiva.
Por tudo isto, acho que a regra da bandeira, que se vai implementar este ano, é uma forma de dizer aos banhistas “vá, animem-se, agora têm mais uma forma de divertimento. Apostem uns com os outros quem consegue ir mais vezes à água sem ser multado”, ou seja, será um bónus para o povo.
Claro que quanto pior o mar estiver, mais engraçados vão tentar ganhar o respeito da moça da toalha ao lado,.... Parece que já estou a ver, o Zé Júlio e o Toino Manel, ambos meio desdentados, carecas e com barrigas que os auxiliam a boiar, a falar a alto e bom som, de forma a que a Vanessa Cristina ouça, que eles vão fazer o nadador salvador de parvo, porque vão ao “mari” e escapam sem a dita multa,.... Ai, que belos dias de Verão se aproximam,....
Bom ,talvez seja a dúvida constante do “será desta que vamos quinar ou não” que seduz o nosso povo. Talvez até tenha sido esse mesmo sentimento o impulsionador dos Descobrimentos, quem sabe?! Acho é que se os outros países não nos admirarem por mais nada, pelo menos que nos respeitem a capacidade inventiva de arriscar a vida.
E vou terminar por aqui, porque tenho mesmo de ir dar uma volta a pé, sozinha, ao mesmo tempo que exibo o meu novo ipod numas ruas obscuras aqui de Alcântara.