sábado, outubro 07, 2006

Diferentes versus iguais

Parte do estágio do meu curso é feito em instituições de deficientes. No meu caso, encontro-me até Janeiro numa das valências da Crinabel.
Confesso que a expectativa de lidar com pessoas diferentes de nós é alta e que, no início, é o medo que domina. Temos medo de não os percebermos, medo das suas perguntas mais atrevidas, medo de não reagirmos adequadamente, enfim, acho que é o medo do desconhecido que nos acompanha nessa primeira visita.
Depois somos conquistados. É bem verdade que nem todos se deixam conquistar, no entanto, eu fui das que não resistiu.
Ali, naquele mundo deles, só a verdade impera. Talvez por isso nos sintamos uns estranhos ao primeiro contacto, é que no nosso universo diário estamos habituados a usar máscaras e ali isso é coisa inexistente. Na sua maioria, fazem questão de nos mostrar que gostam de nós, então abraçam-nos e beijam-nos, ao mesmo tempo que dizem o quanto somos bonitos. É impossível não desejar protegê-los. Tal como acontece ao longo da nossa vida, existem pessoas pelas quais nos “apaixonamos” à primeira vista, existe um empatia inexplicável e isso aconteceu-me com alguns dos utentes da instituição. Sem saber muito bem como, fui falando com eles como se sempre o tivesse feito. Senti um à-vontade inesperado. Um deles, portador de trissomia 21, conquistou-me à primeira vista. Ele é profundamente querido e delicado. Houve um momento em que ele me fez festas na mão, ao mesmo tempo que sorria e exibia um olhar envergonhado. Mais tarde cruzámo-nos no corredor, altura em que ele fez questão de me mostrar a sua bela gravata. São gestos simples mas que conseguem ser mais fortes que muitas palavras.
E assim são eles, todos diferentes, cada um a surpreender-nos de mil e uma maneiras.
A verdade é que eles não são nem mais, nem menos que nós, são apenas diferentes.
Alguns pintam, nadam, andam a cavalo, fazem escalada, bolos, compotas e apesar disso, por vezes, não conseguem fazer tarefas que para nós, os “normais” são bastante simples mas em contrapartida, quantos de nós conseguem abraçar e dizer que amam alguém sempre que sentem esse impulso?
Pois é, ninguém é perfeito e isso é que dá jeito relembrar de vez em quando.