quarta-feira, agosto 30, 2006

Os dias em que não caibo em mim.

Há dias em que não caibo em mim. Parece que o meu interior quer sair cá para fora e adquirir vida própria.
Nestes momentos, sinto que o meu coração aumenta de tamanho como se desejasse ocupar todo o corpo e tornar o meu cérebro mais sentimental.
As pernas querem andar mais depressa. Desejam dar passos largos de forma a percorrerem o maior número possível de caminhos desconhecidos. Deixo de as poder controlar, de as conseguir guiar pelos trajectos seguros que conheço como a palma da minha mão.
Os meus olhos querem-se bem abertos, de forma a conhecerem tudo o que de novo se lhes apresenta. Não refilam se lhes tento mostrar o que já lhes é familiar, eles conformam-se com isso, no entanto, inventam sempre novas perspectivas no que já é habitual. O que é costume passa a ser encarado como novidade. O olhar que se tem na infância, a descoberta constante, é recuperado.
As minhas mãos querem perder a vergonha e tocar nas pessoas de quem gosto. Entretanto, deixam também de se preocupar com o facto de se movimentarem imenso, numa tentativa atrapalhada de acompanharem o discurso que é feito.
Os ouvidos captam as músicas, tomando atenção às melodias como se delas dependesse a vida. Agrada-lhes os sussurros que lhe são feitos e não se inibem de pedir mais.
O meu nariz capta todos os perfumes, de forma a que no futuro possa associá-los a momentos vividos e então recordar.
Os meus lábios perdem o medo das letras que compõem palavras sentimentais, tais como amo-te ou adoro-te. E beijam. Beijam quando lhes apetece, sem se preocuparem com aparências ou falsos moralismos.
Nestes dias tudo em mim é sonho. Perco os medos e arrisco, arrisco a ser feliz.
Nestes dias sou maior que eu mesma. Sou eu e mais uma estranha em mim.