terça-feira, julho 04, 2006

"Se você disser que eu desafino amor/Saiba que isto em mim provoca imensa dor(...)"

Por vezes, pergunto-me se haverá pessoa mais desafinada que eu. Penso que não, pelo menos não que eu conheça. Ora, isto para quem consegue entoar minimamente bem uns quantos lailailás, parece insignificante, no entanto, os habituais cantores horrendos de chuveiro compreenderão a minha perspectiva.
Num concerto, essa capacidade particular de desafinar ainda consegue passar mais ou menos despercebida, porque à vossa, juntam-se outras numerosas vozes, mas se estão num ambiente em que consigam ser minimamente escutados, meus amigos, temos pena, mas os olhares de desespero e raiva, de quem está ao vosso lado, começarão a surgir.
Após nos apercebermos do ambiente hostil que se está a criar à nossa volta, optamos pelo truque de apenas gesticular com os lábios, não permitindo a saída de qualquer tipo de som. Com isto, deixamos os nossos “vizinhos” bem mais felizes e ficamos com tal prática no playback que se nos transformarmos em travestis conseguimos ter a vida assegurada nos clubes nocturnos.
Depois tenho ainda um acto reflexo, que consiste em começar a abanar a perna mal ouço uma música. Obviamente que qualquer que seja a melodia, o meu ritmo (poderei chamar-lhe assim?!) de perna é sempre o mesmo. Está a tocar pop/rock? Batimento 1,2,3. Está a tocar jazz? Batimento 1,2,3. Não há nada que enganar.
Quando existe alguém ao nosso lado que está num ritmo completamente diferente do nosso, ou seja, está no ritmo certo, nós podemos tentar acompanhá-lo e então será o caos. Geralmente eu tento fazê-lo, o que conduz a que o meu cérebro dê um nó, em que me começa a faltar coordenação geral e tenho de desistir para não correr o risco de fracturar algum osso.
E quão embaraçosa é uma saída entre amigos para dançar? Existem sempre duas hipóteses, rodearmo-nos daquela nossa amiga cujo talento é equivalente ao nosso ou ficarmos sentadas, num canto, em amena cavaqueira, com um ar de “eu sei dançar, apenas sou demasiado arrogante para o fazer na mesma pista que todos vocês”.
No Carnaval, felizmente tive uma grande companheira neste campo. Foi bonito de se ver. Era como se estivéssemos as duas a ouvir uma música totalmente diferente das outras pessoas que connosco se encontravam, mas é aí que nasce a verdadeira evolução, vinda da diferença.
Variadas vezes tenho uma música que não pára de tocar na minha cabeça e na maioria dos casos pretendo explicar, a quem está comigo, de que música se trata. No seguimento do que escrevi anteriormente, podem perceber que serão raras as pessoas que conseguem identificar o que tento entoar. Como também sou péssima com nomes ( isto já dará um outro post) nunca me recordo do nome da canção, nem do cantor.
Ás pessoas que têm esta capacidade extraordinária de adulterar letras e ritmos dou um pequeno conselho, quando encontrarem alguém que identifique a canção que tentam partilhar com o Mundo, fiquem com ela e não a voltem a largar jamais. É mais uma pessoa a dar-vos sentido de normalidade e por isso mesmo tem de ser valorizada.
Para terminar, o que me dá algum alento é saber que esta completa falta de talento não está relacionada com falta de inteligência, senão vejamos, alguma vez viram Bill Gates a dançar ao som de uma bela rumba?! Ou Einstein a cantarolar ritmadamente “como o macaco gosta de banana eu gosto de ti(...)" de José Cid?!
Pois, bem me parecia que não.