quinta-feira, junho 29, 2006

Parabéns para ti,

Quantos de nós já receberam mensagens de parabéns realmente originais?!
Normalmente bate tudo na mesma tecla do “muitos anos de vida,...” ou “que tenhas um dia muito feliz”. Chega uma certa altura que já não conseguimos inovar, afinal, é muita gente a festejar a mesma data todos os anos e isso acaba com qualquer espírito renovador.
Hoje foi o aniversário de um amigo meu e, apesar de ter gostado de lhe dar dois beijos de parabéns pessoalmente, tive de me restringir ao telemóvel. Ambos somos pessoas estudiosas e como tal, estamos num período de isolamento social que não nos permite confraternizar um com o outro, nem sequer no dia de hoje, em que ele se gabaria do ganho que foi o seu nascimento para a Humanidade e eu simplesmente faria o papel de pessoa sã desta amizade e trá-lo-ia de novo para o planeta Terra, onde a sua presença é totalmente irrelevante a não ser para quem é seu amigo.
Porém, fiquei contente com a mensagem que lhe enviei, acho que consegui ser o que não era à muito tempo, ou seja, fui totalmente original.
Mandar uma mensagem estranha de parabéns não é habitual, no entanto, só corri esse risco porque sabia que ele compreenderia a intenção subjacente.
Recebi a sua resposta, passado algum tempo, e foi com alegria que percebi que existem coisas que nunca mudam.
Aproveito para registar aqui o que não lhe disse hoje, porque um telemóvel não passa de um telemóvel e este nunca consegue transmitir tudo o que desejamos.
Na verdade, espero que continues a pessoa insuportável que és, porque assim jamais estarei sozinha; que te mantenhas arrogante porque assim tenho com quem embirrar;
que continues com ideias completamente estapafúrdias porque dessa maneira permites que eu treine a contra-argumentação; que sejas o único a atrever-se a esquecer os meus anos, de forma a que eu tenha quem espancar nos meus primeiros dias de pessoa mais velha; que consigas manter a capacidade de me fazer rir até o estômago doer e as lágrimas me correrem pela face; que a tua lata inacreditável se mantenha assim mesmo: inacreditável; que me continues a conhecer tão bem que basta ouvires a minha voz para saberes qual o meu estado de espírito; que o passar dos anos nunca seja equivalente a afastamento entre nós, que a nossa amizade resista às nossas diferenças, às rugas, incontinências urinárias, alzhiemeres e parkinsons que por aí virão.
Que continues a perceber que jamais consigo falar totalmente a sério quando preciso de dizer que já fazes demasiado parte da minha vida, que sem ti nada seria o mesmo e que te adoro (como te conheço cá vai o aviso que se impõe: não sejas tarado, é apenas amizade, caso já estejas a pensar em assediar-me).