quinta-feira, junho 29, 2006

Adeus

Existem pessoas que me provocam a estranha vontade de as trazer para casa.
A minha última “aquisição” deste género é um senhor que se encontra, à noite, parado na zona do Saldanha e acena a quem por ele passa.
Para além de ter um aspecto encantador, que apenas a sua idade avançada permite, o seu delicado gesto intriga-me ao mesmo tempo que me conquista.
Como pode um simples “adeus” reconfortar alguém?! Como pode alguém achar que tal gesto mudará alguma coisa para quem o vê?!
Fico a pensar que ao longo da nossa vida vamos tendo um número razoável de despedidas, no entanto, pouquíssimas delas conseguem ser tão claras, simples e bonitas como um simples acenar de mão.
Na verdade, porque hei-de eu pensar que o senhor diz “adeus” e não “olá”? Afinal, um aceno também pode ser uma forma de iniciar uma conversa, com alguém que vimos ao longe.
Como em tudo, o significado varia conforme os olhos de quem observa e não depende apenas da imagem em si mesma.
Quem me dera ter a profundidade de espirito do tal senhor, porque me faz sentir que aquele gesto tem uma importância para lá de todas as formalidades e ditames das regras de sanidade mental, exigidas na sociedade actual. Porque não se tem de ser louco para perceber que existem outras pessoas que nos rodeiam e que um simples sorriso pode mudar grandemente os dias de “cão” que por vezes nos atormentam.
Dia após dia continuamos a preferir passar discretos, ignorando-nos uns aos outros, desaparecendo sem que alguém de nós sinta falta. Quem sabe se um simples adeus não mudaria tudo isso?!
Quantas pessoas sentirão a sua falta, um dia que ele desapareça?! Muitos vão ficar sem o adeus, o desejo de boa viagem, o olá ao qual estão habituados.
No final, sentirão a falta de quem lhes conferiu presença mesmo sem nunca lhes ter dirigido a palavra.
Quando por ele passarem, aproveitem e treinem o vosso aceno, nessa altura, cabe-vos escolher se estão a dizer adeus ou a iniciar uma longa conversa intercalada por paragens em semáforos.
Seja como for, por certo valerá a pena.