segunda-feira, junho 12, 2006

"O teu dedo do pé é tãoooooooooooooooooooooooooo grandeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!"

Esta tarde entrei numa loja e fui conquistada por duas crianças, que por lá se encontravam, acompanhadas das respectivas mães.
A certa altura, um dos meninos lembrou-se de elogiar as sandálias que a mãe do amigo calçava, mas como ainda não era bastante, deu-lhe noticia também do quão grande era o dedo do pé da respectiva senhora. Foi de uma sinceridade típica da idade e que conduziu a um momento de riso colectivo. Pelo menos, a senhora ficou a acreditar que as sandálias eram mesmo bonitas, porque daquela boca não sairia nenhum elogio forçado ou fingido.
Já pensaram o que seria a nossa vida adulta se mantivéssemos essa inocência? Se pudéssemos dizer tudo o que pensamos?!
Acho que neste aspecto os meus pais não me ajudaram muito, limitaram-se a transmitir o básico para eu ser aceite na sociedade, sem me excluírem e internarem numa instituição qualquer.
Na verdade, fui ensinada a acreditar que não precisava de mentir, nem de fingir gostar de quem não gostava. Adoptei esses ensinamentos tão bem, que hoje sou péssima em ambos os campos.
O meu lado anti-social, deve-se ao facto de eu não fazer fretes em relação às amizades. Existem pessoas que não me agradam, de quem não gosto, e com as quais converso apenas o estritamente necessário, com a simpatia mínima exigida. Não sinto falta de conhecer uma imensidão de pessoas, quando me basta conhecer poucas e boas. Admiro boas pessoas, acima de tudo. E cada uma que conheço, que assim é, tento não a deixar fugir. As restantes? Os outros que socializem com elas.
Quero, na minha vida, pessoas que tenham algo para me ensinar, que me dêem vontade de as ver todos os dias, ou de sentir a sua falta quando ausentes e cujos momentos de silêncio nunca sejam incómodos. Com as quais possa partilhar as minhas tristezas, os meus sonhos e as minhas piadas tontas. E neste campo sigo sempre o instinto, afinal, ele existe por alguma razão, não é?!
Para piorar, não sou boa a mentir, aliás, sou um pouco patética quando o tento fazer. Começo a gaguejar um bocado, a tentar mudar de assunto, a inventar frases confusas, até que desisto e acabo por rir da minha própria atrapalhação.
Existe outro aspecto que não consigo controlar, que é o meu olhar. Se já não tivessem inventado a frase “os olhos são o espelho da alma” teria eu de o fazer.
Os meus olhos denunciam muitas frases que ficam por dizer, muitos pensamentos, no entanto, ainda vou tendo alguma sorte neste aspecto, porque a maioria das pessoas raramente nos olha nos olhos. Depois, existem a que nos olham, mas não nos vêem. Pensam em mil coisas enquanto connosco falam, sendo que a sua atenção raramente se concentra em nós.
Passamos os nossos dias desconfiados, apressados, habituados a fazer o que não queremos, a desejar que todos gostem de nós, que nos esquecemos de agradar a quem mais importa: a nós mesmos.