sexta-feira, outubro 27, 2006

Espelho meu, espelho meu, haverá carrinho mais bonito do que o meu?

Não consigo perceber as pessoas que optam por utilizar carro próprio em detrimento dos transportes públicos.
Saberão estes indivíduos o que andam a perder?!
Já contei, em posts anteriores, algumas das minhas aventuras nos autocarros, porém, hoje quero chegar à população que ainda não percebeu o encanto que se vive, quer nas paragens, quer nos transportes propriamente ditos.
Para começar, se costuma sentir-se ignorada ou isolada, então as paragens são o lugar ideal para si. Facilmente terá uma velhota a perguntar-lhe se já passou o 738 para, passados dois minutos, saber que a dita tem 5 netos, mora na Ajuda e adora comer “bacalhau com todos”. Muitas relações sociais se estabeleceram assim, portanto, aproveite e crie a sua.
Como a chuva está aí, poderá testar a sua capacidade de manobra ao tentar segurar o passe, uma mala, um saco, alguns cadernos e um chapéu de chuva enquanto tenta entrar no autocarro. As possibilidades de algo correr mal são infinitas, daí a importância de ter dado conversa à velhota do parágrafo anterior, pois ela tratará de a ajudar caso necessário.
Presumindo que terá lugar sentada, poderá ter um vizinho de cadeira cheio de sono que tende a encostar a cabeça ao seu ombro, um leitor obsessivo, alguém alérgico ao banho ou até um ouvinte de mp3 a altos berros. Quer tenha ao seu lado o príncipe de Espanha ou o Tino de Rans, terá de se aguentar à bronca, pois nada de bom acontece a quem troca de lugar. Existem histórias aterradoras sobre o assunto.
Nos dias mais movimentados poderá assistir a Wrestling, ao vivo, com a vantagem de perceber tudo, mesmo que não saiba inglês, e de não precisar pagar bilhete. Tal como na TV, os motivos para que a luta se desencadeie são mal explicados e ridículos, podendo ir de uma competição por um lugar até uma ultrapassagem na fila.
O factor surpresa também deve aqui ser referido. Quando entramos num autocarro nunca sabemos o que iremos encontrar. Tanto pode ser um cheiro a peixe podre como um intenso perfume dos 300. Na verdade, o que interessa é surpreender e testar a nossa capacidade de suportar todo o género de cheiros que existem na cidade de Lisboa.
Para terminar, parará várias vezes no caminho até chegar ao local onde deseja sair. Esta situação ajuda no desenvolvimento da paciência, no saber que para chegar ao destino é preciso passar por vários obstáculos antes. Como podem ver, até lições de vida se aprendem neste meio.
Agora digam-me, para quê ter carro próprio?!