domingo, setembro 03, 2006

É verdade que o primeiro nome da Saudade é Maria e que ela é portuguesa?!

Sempre ouvi dizer que a saudade nos pertence, a nós, portugueses, mas será mesmo assim?
Tentei definir tal sentimento mas tive de fazer batota, que é como quem diz, recorrer ao dicionário. Segundo este, “saudade é um termo difícil de explicar, existindo tão somente no vocabulário da Língua portuguesa sendo uma espécie de nostalgia, mas mais complexa. É a lembrança de um bem que está ausente.”
Se existe apenas na nossa Língua, quer dizer que todos os outros povos nunca sentiram a necessidade de definir o “aperto no coração”, provocado pela ausência de quem se ama? Ou será que tal sensação nem sequer lhes chega a surgir?
Será a saudade que nos torna menos alegres e expansivos que os brasileiros, ou até, do que os nossos vizinhos espanhóis? Afinal, o nosso país também tem praias, calor e sol durante vários meses do ano, no entanto, o nosso carácter colectivo não é de todo igual ao dos países que justificam a sua maneira, alegre, de ser pelo seu boletim meteorológico.
Talvez este sentimento tenha surgido na época dos Descobrimentos e tenha ficado calcado no nosso código genético de tal forma que, desde que o primeiro barco partiu, todos os portugueses ficaram condenados a sentir saudades de quem desapareça no horizonte.
Actualmente já não partimos nas naus nem vamos à procura de novas terras (embora ainda existam os velhos do Restelo). Mantemos a tradição de ir embora, conhecer o que está mais além, mas desta vez à procura de trabalho, ou apenas de outras formas de vida, o que nos continua a dar motivos suficientes para alimentar a saudade.
A verdade é que talvez até tenhamos algum prazer em cultivar tal sentimento. Qual o português que nunca se deitou na sua cama, a ouvir uma música bem triste, pensando em quem está longe? Obviamente que a saudade tem a sua melodia pessoal, afinal, o Fado mais não é que a saudade cantada. Ou não será assim?!
Acho que a saudade nos traz ao de cima um lado mais nostálgico e, até por vezes, trágico. Vários livros, de autores portugueses, revelam actos loucos cometidos por quem sofreu de “tal mal”. As mortes de amor são provocadas porquê? Porque quem ficou sozinho não consegue suportar a dor da ausência provocada por quem partiu. As saudades apertam tanto que a pessoa perde o ar . Morre-se assim de saudades do nosso amor. Claro que isto aconteceria no passado e não actualmente, afinal, hoje em dia ninguém tem tempo para morrer de “mal de amor”. Vivemos a mil, razão pela qual me pergunto, quantos de nós têm ainda tempo para sentir saudades dos ausentes amados?! Estará a saudade a transformar-se num sentimento de fim de semana livre?!
Lembrei-me de divagar sobre isto por um simples motivo, é que nunca tinha dito a frase “tenho saudades” tantas vezes como ultimamente.
Quando não vejo, por algum tempo, alguém que amo, sinto o meu peito encher-se de saudades tal e qual um balão, o qual esvazia rapidamente, porém, apenas em presença do “bem ausente”.
Pensando nisto, chego à conclusão de que o melhor de sentir saudades talvez seja o facto de as podermos matar sempre que a ocasião o permite.