terça-feira, setembro 11, 2007

Texto meio alucinado sobre o emprego (ou será sobre o desemprego?!)

Dizem sempre que não devemos parecer desesperados quando procuramos desesperadamente um trabalho, não é? Ou seja, a principal recomendação que nos fazem, quando pretendemos entrar no mundo do trabalho, é a de conseguirmos fingir ser o que não somos, esconder as fragilidades e exibir as qualidades, qual pavão em altura de procriação.
A propósito, neste mundo do trabalho que me dizem da invenção de entregar currículos pessoalmente? De que serve? Qual a vantagem? Tenho para mim que o pensador desta situação tinha algo a ver com o mundo dos sapatos pois, até agora, já entreguei muitos currículos e a única coisa que consegui obter, para além de dores nos pés, foi o gastar de solas.
Não sei se será só para mim que o ritual de procurar trabalho se revela algo estranho.
Primeiro elaboramos um documento que resume a nossa vida de estudo, depois tratamos de o entregar nos sítios onde adoraríamos trabalhar, depois nos que não nos importávamos de trabalhar e, por fim, naqueles que nos aceitam, onde odiamos estar mas onde o ordenado chega todo o fim do mês.
Para arranjarmos um trabalho tratamos de nos vestir bem, pôr a nossa melhor cara e o ar mais simpático. Entregamos currículos, vamos a entrevistas, tentamos demonstrar o nosso melhor. Raios, até lhes entregamos um papel cujo intuito é mostrar que eles só têm a ganhar com a nossa contratação. Resumindo, arranjamo-nos, mostramos o nosso melhor e esperamos que paguem no final. Já agora, isto não vos faz lembrar nada?!
E que raio é aquilo de nos dizerem “depois ligamos” e, na verdade, não o fazerem?
Por esta altura sinto-me decepcionada porque deixei de acreditar no mito do esforço. Se te esforçares vais conseguir, se fores a melhor vais trabalhar onde quiseres. Hoje, sei que isso é uma treta. O que vou dizer aos meus filhos é para se esforçarem o mínimo, terem lata e aprenderem a dar graxa e, desta forma, saberei que terão um futuro radiante pela frente.
Sinto-me mal por o meu namorado gastar o seu tempo a andar comigo, de um lado para o outro, a entregar currículos. Sinto-me frustrada por ir a vários locais e ligar a outros tantos e ninguém precisar de uma higienista. Sinto-me enganada, por perceber que o mérito não é necessário para se conseguir trabalhar.
Sinto-me ainda pior por saber que acabarei por enganar os meus filhos, ao não lhes ensinar nada diferente do que me foi ensinado a mim…