quinta-feira, julho 19, 2007

“Have the courage to live. Anyone can die.” Robert Cay

Acho que a maioria de nós comete, ao longo da vida, o erro crasso de acreditar que jamais vai morrer.
Desde o momento em que percebemos o que a morte significa, passamos o resto dos dias a fingir que ela nunca nos vai acontecer. Haverá melhor exemplo dessa situação do que quando alguém diz “se eu morrer”. Se? Onde é que está a dúvida?
Nunca antes eu tinha sofrido a perda de uma pessoa amada. Senti recentemente o que é saber que jamais vamos ver, falar e até discordar de uma pessoa que nos é querida. Passaram 2 meses e, se recordo a minha avó, as lágrimas começam a correr, feitas loucas, pela minha cara. Sinto que ainda não superei a perda. Tenho pena por ela não me ter visto terminar o curso, casar, nem sequer ter filhos. Queria acreditar num Céu de onde ela me visse a concretizar tudo isso. A ser a pessoa que ela desejou sempre que eu fosse.
Basicamente eu queria uma nova oportunidade com ela. Dizer-lhe que a amava, apesar de raramente a abraçar, despender minutos da minha vida para falar mais com ela, convencê-la de que a vida ainda merecia ser vivida fora de quatro paredes. Gostaria de ter percebido que estava a desperdiçar uma oportunidade que jamais poderia compensar. Ela morreu e nem sei se sabendo que nos ia fazer uma falta enorme. Que era amada, muito mais do que poderia imaginar.
Nos dias seguintes à sua morte, senti que o Mundo deveria parar por uns momentos. Como é que alguém que amo morre e mais ninguém no Mundo se ressente disso? Como é que eu choro todos os dias, vejo o meu pai e o meu avô sofrerem e todos os outros continuam a ir para o trabalho, ao cinema, a saírem à noite, a manterem a sua rotina habitual? Porque é que o tempo parou só para nós? Porque sofremos em câmara lenta enquanto a vida dos outros parece correr em fast forward?
Guardo bem dentro do meu peito o medo de perder outra pessoa importante novamente.
O lado racional esconde o meu temor nas profundezas emocionais, permitindo que eu viva a minha vida sem grande alterações.
Confesso que quando saio de casa, de fim-de-semana, tenho medo de receber um telefonema a relatar algum problema. Quase que me sinto com poderes especiais, como se a minha presença os pudesse proteger, sempre. Ultrapasso esse medo, afinal, quem vive cheio de receios apenas sobrevive e não quero isso para mim. Não quero temer a morte de forma a que ela ainda me mate em vida.
Vou continuar a sobressaltar-me, a preocupar-me com atrasos, com falta de chamadas telefónicas à chegada de um qualquer lugar, mas vou amar as pessoas da minha vida como elas merecem, sem medos à mistura, sem as limitar.
Mesmo não tendo nenhuma crença religiosa acredito que a morte apenas nos leva um corpo. A alma, essa, fica connosco, com os que amaram. Sempre. Para sempre.